Eu quero fazer um alerta que talvez você desconheça.
De um silêncio que talvez você pense que é só seu.
De um sofrimento romantizado e silenciado: a Síndrome de Burnout.
Quero trazer algumas informações que nos fazem pensar sobre essa realidade. Você sabia que 30% da população brasileira sofre com esse distúrbio? Isso nos leva para um pódio: ocupamos o lugar de segundo país com mais casos registrados da Síndrome de Burnout*.
Este é um sofrimento silencioso, onde a pessoa tem dificuldade de perceber sua própria condição e que envolve muitos aspectos que vou abordar em seguida.
Todos nós carregamos uma história que nos é particular. A forma como lidamos com os acontecimentos da vida pode ser determinante para o sofrimento ou bem-estar do nosso corpo e da nossa mente.
Meu objetivo aqui, além de citar características da Síndrome de Burnout, é instigar você a refletir para além da história pessoal de cada indivíduo e pensar sobre a construção da história da sociedade, especificamente a história da sociedade do trabalho.
Vem comigo!
Quero voltar um pouco para o século XIX e você pode se questionar: Que é isso, Wélita!? Precisamos voltar tanto no tempo?
Então te respondo que sim, precisamos!
Entender a história, a constituição de um modelo mental social nos traz o entendimento da condição do trabalhador e trabalhadora do século XXI, em uma era pandêmica.
Bora?
Primeiramente, quero citar que meu objetivo aqui não é expor em detalhes os fatos da história, mas levantar alguns pontos que considero importantes para nosso entendimento sobre a Síndrome do esgotamento profissional (Burnout).
No início do século XIX houve um marco, no que tange ao desenvolvimento de tecnologias e consequentemente a inserção de máquinas nas indústrias, gerando uma grande movimentação social. Essa era teve um nome: A Revolução Industrial.
E esse momento da nossa história impacta nossa realidade no trabalho até os dias de hoje, pois foi uma era marcante e responsável por grandes transformações nas relações de trabalho. Na ocasião, toda pessoa visivelmente “saudável” estava apta para trabalhar, isso incluía homens, mulheres, crianças e idosos, submersos em ambientes insalubres, com altos índices de acidentes e fatalidades.
As máquinas passaram a executar o trabalho de muitos colaboradores, o que resultou numa diminuição exponencial de salários e longas horas de trabalho.
O trabalhador que se via doente, seja fisicamente ou mesmo psiquicamente, deveria suportar a dor em silêncio para garantir seu lugar, tanto no trabalho quanto na sociedade. Qualquer semelhança com a realidade de hoje não é mera coincidência, pois esse comportamento social de silenciar o sofrimento é facilmente identificado atualmente.
Obviamente, o cenário atual mudou bastante e muito tem se falado sobre saúde mental no trabalho e sobre as doenças ocupacionais que vão além das doenças do corpo. A propósito, a Síndrome de Burnout foi definida este ano de 2022 pela OMS como um fenômeno ocupacional.
Fiz questão de citar fatos da história para que possamos entender que essa romantização do excesso de trabalho, que vejo muito nas empresas atualmente, tem uma raiz que vem das gerações que antecederam à nossa, em que a pessoa valia proporcionalmente as horas que trabalhava e o pensamento era visto como algo que reduzia a capacidade laborativa e, consequentemente, o volume da produção.
Quantas e quantas vezes eu enchi o peito de orgulho ao dizer que na noite anterior eu havia trabalhado até a madrugada em casa, após minhas 8 horas de trabalho habitual na empresa?!
E o mais grave nisso tudo é que eu era validada por meus pares e reconhecida por meus superiores. Estes de modo informal, é claro. Era a romantização do cansaço, o ”vestir a camisa da empresa”.
Há muitos discursos prontos no mundo corporativo! Você reconhece essas falas?
Certamente o engajamento é de suma importância para ambos (empresa e colaborador). Envolve propósito, ética e respeito mútuo. A contratação é dos dois e na mesma via, a retenção também. Quando você percebe que também precisa comprar a empresa e age com essa premissa, muita coisa pode mudar na sua relação com seu empregador e na sua vida no trabalho.
Muito sofrimento permeia as salas e corredores silenciosos das organizações e grande parte deles poderia ser evitado através da escuta de seus líderes para com seus colaboradores. As pessoas fazem uma organização, o humano é o principal tesouro do negócio. Lembrando que os líderes também são liderados e assim se estende até o último escalão de um negócio. Até mesmo um CEO tem seus investidores que ali estão em prol da organização.
Precisamos falar desse sofrimento, precisamos levar informação e romper o silêncio, afinal, 1 em 3 três trabalhadores vão apresentar um quadro de estafa mental em algum momento da vida. Talvez o seu colega do lado, um membro da sua família ou até mesmo VOCÊ pode passar por isso.
Pensando em levar informação, quero citar aqui algumas situações estressoras relacionadas à Síndrome de Burnout e que podem desencadear o transtorno:
– Altas demandas de trabalho, poucas pessoas para executar e prazo curto para entrega.
– Ausência de descrições de cargos ou descrições mal descritas, resultando em colaboradores confusos quanto a papéis e responsabilidades.
– Dificuldade de relacionamento interpessoal entre colaboradores da equipe, o que dificulta a criação de vínculos, gerando quebra de confiança e competitividade desmedida.
– Falta de reconhecimento, recompensas salariais e perspectiva de carreira.
Para você conseguir se perceber diante da sua rotina no trabalho e fazer uma autoanálise da sua condição hoje, resumidamente, e a grosso modo, posso dizer que a pessoa com Burnout passou pelos seguintes estágios:
1 – Primeiramente você começa a produzir muito, sua performance fica elevada, começa a trabalhar várias horas por dia, mais do que trabalhava anteriormente e mais que os outros colaboradores da equipe. Com isso, acaba deixando de lado atividades que antes gostava de fazer, como sair com amigos, praticar atividades física, etc. e o trabalho passa a ocupar pelo menos 80% do seu tempo.
2 – Num segundo momento, você desenvolve um quadro de ansiedade e irritabilidade. Começa a ficar impaciente com colegas de trabalho e nos relacionamentos interpessoais de modo geral, associado a sintomas físicos típicos da ansiedade, como a insônia, palpitação, falta de ar, angústia.
3 – Num terceiro momento, começa um quadro de exaustão e apatia, onde sua energia começa cair e sentir esgotamento físico e mental. Você se sente extremamente cansado, com muita dificuldade de concentração e de memória. Há uma perda de interesse diante das coisas, situações e pessoas, mostrando-se apático, sem energia diante da vida, com tendência a se isolar. Nesse momento, pode desenvolver uso abusivo de álcool e drogas, compras, comida em excesso, na intenção de obter o prazer que não está tendo em outras esferas.
Obviamente nem todo mundo irá passar por todas as fases e necessariamente nesta ordem. Porém, é importante o conhecimento, a informação e o olhar cuidadoso consigo e com o outro.
O estado emocional causado pelo Burnout pode desencadear outros transtornos psicológicos como a depressão e a ansiedade generalizada.
Quando penso em Burnout logo me vem uma palavra: autocobrança. Aquela cobrança interna de ter que dar conta de tudo, de ter que entregar para garantir seu lugar, como ocorria lá no passado dos nossos pais, avós. Na pandemia tudo se potencializou e muito provavelmente você está ai, tentando entregar mais a cada dia e ocupando um lugar que tem medo de perder.
Nessa tonelada de entrega, não está sobrando tempo de receber, se perceber e se doar para o que e quem realmente importa.
Esse texto fez sentido para você? Acredita que pode acrescentar positivamente na vida de alguém? Então COMPARTILHE esse conteúdo e vamos levar informação e alcançar quem precisa.
*Fonte: ISMA (International Stress Management Association).
Sou Psicóloga, Coach e me dedico a saúde mental como o objeto principal do meu trabalho, sobretudo as temáticas que envolvem o estresse, esgotamento profissional (Síndrome de Burnout), ansiedade, depressão e suas implicações. Sou idealizadora da Plataforma Wélita Miranda de Saúde Mental, do Grupo de trabalho Saúde Mental das Mulheres, com Atendimento Psicológico Individual. Gosto de contribuir para o crescimento de quem me cerca e também aprender junto nesse convívio.
Integro esta carreira com consultorias voltadas para Gestão e Gente, onde aplico minha expertise de mais de 15 anos de atuação em grandes organizações multinacionais.
Nascida em Goiás e morando em São Paulo, sou uma pessoa leal aos meus valores, acredito na importância de promover às pessoas um lugar de fala e de desenvolvimento, para que possam olhar verdadeiramente para si mesmas e suas questões, em busca de bem-estar e saúde mental.
Deixe uma resposta