Convoco você mulher a entrar comigo nesse debate cujo título pode te soar estranho. Mas confia em mim, esse assunto vai te interessar.
Ao ler o quadrinho da quadrinista francesa Emma (dá um google e vai ler também), me causou uma reviravolta no estômago e não pude deixar de escrever aqui a respeito dessa temática sobre o cansaço e a carga mental feminina na gerência do lar, criação dos filhos, e afins.
Antes de começar, é importante ressaltar que o cansaço feminino, no geral, envolve três questões importantes, na minha opinião: questões históricas, sociais e questões subjetivas, onde uma se emaranha na outra e na prática vira tudo uma coisa só.
Vamos lá.
O que você quer dizer com ‘Cargo: Chefe de Projeto’?
É simples! Pensando na realidade da maioria dos lares, apesar da “divisão” de tarefas em casa, as mulheres é que planejam tudo. Além de executar o trabalho doméstico, acabam se responsabilizando pela “gerência” de uma casa, o que inclui manter a despensa cheia, planejar o jantar, se atentar para que algo não fique estragado na geladeira, lembrar de comprar o presente de aniversário do amigo que convidou para sua festa e, se há filhos, controlar tudo que diz respeito a eles, como organizar a lancheira da escola, perceber que as roupas ficaram pequenas e comprar novas, afinal, os filhos crescem e alguém precisa se atentar a isso, enfim, fazer com que o lugar funcione. O marido ou pai das crianças até faz as coisas, mas precisa ser “guiado” e normalmente não tem iniciativa.
Depois vem a necessidade de se provar no ambiente de trabalho. A equidade de gênero no meio corporativo é uma luta diária. As mulheres ainda sofrem com preconceitos, vieses inconscientes e abusos de vários tipos. Pesquisas apontam esses números, dá outro google e fique por dentro deles.
Quero falar aqui sobre a sobrecarga mental das mulheres que são gerentes do lar, mas nem sempre são vistas como qualificadas para serem gerentes no seu trabalho formal.
Podemos citar inúmeras causas dessa realidade:
– A mulher é criada para ser, em primeiro lugar, a rainha do lar. Não preciso ir longe: minha filha tem fogãozinho e bonecas e já aprendeu como fazer um bebê dormir no colo (afinal, foi assim que a fiz dormir na maior parte da vidinha dela). Eu fui criada assim e provavelmente você também. Não há problema nisso, a questão é que priorizar a educação de uma menina baseado apenas nestas “responsabilidades”, onde o seu lugar é executando tarefas domésticas e maternas, só estaremos contribuindo para essa sobrecarga que abordo aqui.
Isso porque a mesma sociedade que, nas entrelinhas, cobra que a mulher administre o lar, é a mesma que que “sugere” que ela também trabalhe fora e em contrapartida, não é determinado ao homem essa dupla responsabilidade.
– Licença maternidade x licença paternidade – Por muitos anos os homens foram vistos como provedores do sustento da família e as mulheres apenas como mães e donas de casa. Além disso, as diferenças entre licença maternidade e paternidade ainda são gritantes. Enquanto a mulher tem direito a quatro meses, algumas a seis meses, os homens dificilmente conseguem se afastar por mais do que 2 semanas na maioria das empresas. Essa realidade sinaliza como a sociedade e o mercado de trabalho enxergam essa relação de pais e filhos: é como se ela fosse tratada como algo simplesmente biológico – como a amamentação. Não é: tem muito a ver com afeto, criação de vínculo e assunção de responsabilidade.
Pensando em tudo isso que abordei, vejo que esta é uma questão que precisamos olhar, primeiramente, no âmbito histórico e social, visto que em relação aos papéis, coube ao homem o trabalho de provedor, enquanto às mulheres a tarefa de cuidadora. Obviamente, quando pensamos na realidade de nossas mães, avós, e em todas as mulheres que vieram antes de nós, é inegável que tivemos avanços quanto à inserção feminina no mercado de trabalho. No âmbito familiar, mulheres trabalham mais, afinal, há o peso do fardo do papel social de cuidadoras naturais. Tudo isso é construção social. Você consegue enxergar isso?
Muitas mulheres que me procuram esgotadas emocionalmente tem questões conflitantes como por exemplo tendo que decidir entre ir buscar o filho doente na escola ou ir a uma reunião importante no trabalho.
O problema é que toda essa demanda tem um custo para a mulher: é tanta pressão que isso acaba prejudicando a nossa saúde mental.
Você sabia que a depressão e a ansiedade são duas vezes mais comuns em nós mulheres?
Veja alguns sintomas que aparecem para dizer a você que algo não vai bem:
– Insônia e/ou piora na qualidade do sono;
– Dificuldade de concentração;
– Dores no corpo;
– Irritabilidade;
– Dificuldade para desligar a mente;
– Cansaço;
– Ansiedade.
Então o que fazer?
Faça parte da desconstrução de tudo isso!
- Comece encaminhando esse artigo aos homens que você conhece. Homens são criados para olhar para fora, para o mundo, em sua maioria não pensam e nem percebem estas questões. A mudança virá quando essa luta não for somente das mulheres.
- Converse com seu companheiro, diga como se sente, sugira uma redefinição de papéis e responsabilidades e quando isso acontecer, não espere que ele faça como você, ele fará do jeito dele, e essa será a consequência de você deixar de ser o eixo centralizador.
- Se você tem filhos, perceba seu comportamento e a forma como conduz a educação deles, sendo meninas ou meninos.
- Fique atenta aos sinais de cansaço, escute o seu corpo.
- Peça ajuda, faça terapia.
Não normalize ou romantize o cansaço. Estamos juntas nessa, cada uma tocando o seu barco, mas podemos nos ajudar.
Sou Psicóloga, Coach e me dedico a saúde mental como o objeto principal do meu trabalho, sobretudo as temáticas que envolvem o estresse, esgotamento profissional (Síndrome de Burnout), ansiedade, depressão e suas implicações. Sou idealizadora da Plataforma Wélita Miranda de Saúde Mental, do Grupo de trabalho Saúde Mental das Mulheres, com Atendimento Psicológico Individual. Gosto de contribuir para o crescimento de quem me cerca e também aprender junto nesse convívio.
Integro esta carreira com consultorias voltadas para Gestão e Gente, onde aplico minha expertise de mais de 15 anos de atuação em grandes organizações multinacionais.
Nascida em Goiás e morando em São Paulo, sou uma pessoa leal aos meus valores, acredito na importância de promover às pessoas um lugar de fala e de desenvolvimento, para que possam olhar verdadeiramente para si mesmas e suas questões, em busca de bem-estar e saúde mental.
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